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A capulana é um símbolo da cultura de Moçambique

A capulana, tecido colorido e estampado, é onipresente na vida da população moçambicana. Trata-se de um patrimônio nacional que, embora tradicionalmente seja referência das mulheres -- usado como vestimenta da cabeça aos pés, também é usado livremente por homens e crianças. O tecido tem função de vestuário, mas também é utilitário servindo para carregar bebês ou até mesmo em proposta decorativa com seu uso nas casas como cortinas, toalhas e capas de almofadas. O termo capulana tornou-se em toda a África subsariana um termo para designar o tecido que é patrimônio cultural em Moçambique. Estes tecidos são conhecidos em todo o continente como ankara ou kanga na Tanzânia e no Quénia; pano do Congo em Angola; e também lapa na Nigéria.
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Em Moçambique, mais do que um tecido, a capulana é uma expressão da identidade e um arquivo das histórias e memórias das mulheres. São tão importantes na cultura do país que podem ser perpetuados pelas famílias. “O tecido está ligado aos africanos desde meados do século XIX como símbolo da herança moçambicana, as capulanas foram preservadas e passadas de uma geração para a outra e com elas as histórias das mulheres que as usavam”, explica a doutora Sarah Worden, curadora do African Collections e responsável pelo projeto Identidade, têxteis e património das mulheres: estilo costeiro em Moçambique. -- que vem coletando histórias das mulheres que vivem e trabalham entre as seis comunidades de pescadores de Katembe, situadas na margem sul da Baía de Maputo.

A industrialização da capulana na Europa

Alguns registros indicam que a origem da capulana está nas trocas de tecidos de algodão na costa da África Oriental. A proximidade com o continente asiático acabou facilitando a importação de tecidos artesanais, principalmente os indianos, comercializados em Moçambique desde a época colonial. No entanto, de acordo com o estudo The “African Print” Hoax: Machine Produced Textiles Jeopardize African Print Authenticity, do nigeriano Tunde M. Akinwumi , a origem da capulana não é africana.
Ele explica que hoje a chamada estampa africana foi desenvolvida a partir do batik, técnica artesanal de origem indiana. O batik foi difundido da Índia para as ilhas da Indonésia (chamada antes de Índias Ocidentais) e do Japão, com técnica aperfeiçoada pelos javaneses antes do século treze, ou seja, antes de serem colonizados. “Eles produziram muitos padrões simbólicos e não simbólicos. Na Indonésia, o tecido foi usado como um meio de identificação do clã”, destaca o estudo.
De acordo com a jornalista Ana Soromenho, na reportagem “Capulana, meu amor”, no jornal Expresso, , foram os holandeses que se apropriaram das técnicas e desenhos feitos das suas colônias na Indonésia, comunidades do mar de Java, e começaram a produzir os tecidos em escala industrial na Holanda de onde os exportavam para África.
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“A primeira fábrica a industrializar capulanas foi a holandesa Vlisco, inaugurada em 1846. Ao longo do tempo, a Vlisco evoluiu trabalhando em colaboração com designers africanos. O sucesso que as capulanas tiveram na África foi resultado desta co-criação uma prática realizada pelos empreendedores holandeses quase desde o início da produção”. A empresa mecanizou o método de impressão artesanal em cera usado para fazer batiks na Indonésia. Desta forma, eles conseguiram transformar esses produtos em opção de baixo custo no mercado da África, substituindo os têxteis artesanais mais caros da época.
A jornalista explica que a história das capulanas começou em plena Revolução Industrial e coincide com os movimentos de abolição da escravatura e distribuição massiva. “Este é um marco muito importante, porque, ao iniciarem logo uma produção massiva, os holandeses conseguiram dar uma resposta em grande escala relativamente ao negócio dos tecidos manufaturados que chegavam ao Norte de Moçambique pela Índia e ao Sul através dos árabes, no trajeto do Atlântico. Tudo isto irá definir traços, desenhos, cores, geometrias, histórias”, escreve.
Embora mais tarde o mercado tenha sido acompanhado por empresas chinesas e indianas, que tornaram as capulanas massificadas, a Vlisco continua sendo um dos fabricantes e distribuidores de maior alcance. Hoje, 95% dos produtos da Vlisco são vendidos para consumidores africanos. As estampas e os fios de qualidade superior são populares entre os estilistas de alta costura que trabalham hoje na moda africana.

A capulana como expressão cultural no contemporâneo

A imagem de Moçambique como um país multicolorido tem a ver com a linguagem visual das mulheres, sobretudo do norte de Moçambique, que ampliaram os usos criativos da capulana. “As mulheres usam várias capulanas, uma sobre a outra, e lenços ou outras capulanas na cabeça, artisticamente preparadas como touca, em cores e padrões perfeitamente combinados”, destaca o livro “Capulanas & Lenços”, da Missanga Ideias e Projetos.
Para a estilista Ricância Agira , da Afroricky a capulana é um item essencial de identidade em sua marca de moda. Ela vem inserindo o tecido em roupas, sapatos e bolsas desde 2008. Em suas coleções, a capulana tem sido usada em recortes em impressão localizada e também em detalhes 3D – quando a capulana é destacada com acabamentos em alto relevo.
A estilista começou a pesquisar sobre capulana em 2009 quando viajou pelo país por dois anos para desenvolver um estilo para o seu trabalho – uma moda contemporânea e global, mas com linguagem africana. Em Nampula, ela visitou os distritos e comunidades como Namapa, Namialo e Chiure onde descobriu fábricas de capulana. Também visitou Nacapa Porto, em Tete, além de Chimoio Beira, Niassa, Quelimane, Pemba. “Em Nampula encontrei uma antiga fábrica nigeriana cuja produção era de 3000 capulanas por mês”, diz a estilista. Além de adquirir conhecimento, a viagem ainda ajudou a impulsionar o seu trabalho de uso da capulana no design contemporâneo com um desfile em Nampula.
Para a executiva da Afroricky, mesmo que a origem do tecido não seja na África e que a produção seja de fora, foi o continente que construiu a capulana como legado para o mundo. Independentemente de onde venham os tecidos, ela defende que é a personalidade do africano no uso da capulana que faz disso uma expressão e identidade cultural. “Moçambique tem diversos grupos étnicos e diferentes idiomas. Diante desta diversidade, a capulana representa a igualdade e a harmonia entre todos os moçambicanos”, diz.
Crédito fotos: Noémie Huybrechts

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Corantes naturais: expressão criativa na moda sem danos ao meio ambiente

Ao longo da história da moda, as cores tingem causas e movimentos, contando histórias de classe e de auto-expressão. "A cor da roupa, especialmente as cores vivas, saturadas e vibrantes, costumava ser altamente simbólica e refletia o status de quem as vestia", disse Alexandra Loske, historiadora de arte, curadora do Royal Pavilion & Brighton Museums e autora do livro Color: Uma história visual. Desde a antiguidade, várias técnicas foram usadas para tingir tecidos com corantes naturais. Ao observar tecidos de roupas ou tapetes com cores tão bem preservadas em museus, é fácil constatar que é possível optar por uma moda sustentável e autoral criada com uso de tingimento natural e garantir a qualidade no resultado e a durabilidade dos tons escolhidos.
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Antes de 1856, quando os corantes sintéticos começaram a ser usados no mundo da moda, os tecidos eram tingidos com corantes obtidos de fontes animais, vegetais ou minerais, com pouco ou nenhum processamento. Cabe ressaltar que a maior fonte de corantes vem do reino vegetal, principalmente raízes, bagas, cascas, folhas e madeira. Além dos corantes vegetais, há corantes minerais oriundos de ferro e de cobre e também de origem animal, como o cochonilha, provenientes de insetos. Um dos mais antigos corantes é o púrpura tíria (tyrian purple), extraído da secreção caramujos marinhos, provavelmente produzido pela primeira vez pelos antigos fenícios, há mais de 5.000 anos.
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A Afroricky usa apenas corantes naturais de origem vegetal e mineral em suas coleções. Uma decisão para o caminhar na rota de moda mais sustentável, o que inclui uso de recursos locais, de insumos a mão-de-obra de trabalhadores da comunidade em Maputo, em Moçambique. Para a estilista Ricância Agira, tem sido uma experiência criativa surpreendente. “Os corantes naturais podem variar o resultado, depende do tipo de solo e do clima em que as plantas foram cultivadas”. Ela diz isso a partir diálogos com Flávia Aranha, em São Paulo, no Brasil, e em Maputo, em Moçambique, com a pesquisadora Elza Teixeira Gomes.
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Entre as descobertas a partir de estudos, Agira explica um dos mitos é de que as plantas produzem apenas cores pálidas. “Isso é um equívoco. Várias plantas produzem cores pálidas, mas há as que produzem corantes em tons vibrantes de azuis, verdes, vermelhos e amarelos que podem durar realmente muito tempo”. A estilista esclarece que o segredo de cores vivas e duradouras é uma boa preparação.
Para um resultado de qualidade, os fios e os tecidos precisam estar devidamente limpos antes de serem tingidos. Também são necessários mordentes para fixar as cores. Mordente é uma substância associada ao tingimento com a função específica de manter a durabilidade da cor, conferindo maior resistência às lavagens e exposição ao sol.
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Ao contrário da indústria que usa mordente químico poluente, o tingimento natural pode ser associado ao mordente de origem vegetal, como o tanino (substância extraída da casca de algumas plantas) ou mineral como alúmen de potássio, cloreto estânico e sulfato ferroso que são seguros ao meio ambiente. Para se ter uma ideia, o alúmen pode ser usado no tratamento de água potável e o creme de tártaro é usado em alimentos, como bolos. Em seu processo de desenvolvimento com tingimentos naturais, a estilista dá passos largos na transição da produção do seu ateliê. E prepara a coleção que deve pavimentar a sua trajetória: a moda sustentável.

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